E se quiser, se lhe servir na compreensão de si mesmo, explico-lhe assim por troca de um cigarro outro, todo o conceito da sorte. Veja a sorte a que se dispõe amigo, vendo-lhe por um cigarro todo um projecto de ideias científicas baseadas em estudos da vida. Um cigarrinho amigo. Muito agradecido. Lume tenho. Portanto, assim em tonalidades muito brutas, a sorte é quando os acontecimentos que não controlamos nos favorecem a vontade. Se desejar passo-lhe um certificado a comprovar a sua compreensão pela matéria dada. Sabe que a compreensão humana é um motor que cada um constrói ao seu gosto, e que depois de formado não atinge mais além do que aquilo que foi preparado. Deve aperceber-se de tudo isto pelo diálogo, que é um processo rudimentar. Sendo que maioria dos motores de compreensão humana são construídos sobre a palavra.
Se me permite, vou-me deitando, pode ficar a aprender-me, deixe é cair um cigarrinho de vez em quando. Tudo na rua se paga amigo. Há gente maluca que faz colóquios sobre estas ideias, impinge-as por preços doidos. Modesto como sou, troco-as por necessidades pontuais. Também tudo o que digo hoje já não o penso amanhã. Mudo de opinião frequentemente. Não me chame vendido, a opinião variável é o reflexo da evolução. Repare que quando acabar este cigarro terei outra opinião sobre si se me der outro.
Reparei agora que não caiu nenhum cigarro. Se calhar esqueceu-se. Não seja agarradinho amigo. Se eu lhe morro ainda paga a um desses videntes do metro para lhe adivinhar a sorte e os males de amor. Olhe que o amor é o assunto não científico que vende mais. Sobre concelhos de amor só lhe posso dar um. No amor é-se fodido. Para se foder não se pode amar. Só assim terá prazer. O prazer acaba quando o orgasmo começa, a partir daí fodeu-se o Zé da Costa. Não interessa se tenho razão. Nem quero discutir isso agora. Chegado a este ponto, a única coisa que mais activa tenho é o cérebro. Tirando os dedos das mãos que tremem por vontades próprias. Ser-se velho é um estádio muito complexo mas que nos oferece uma visão muito peculiar do absurdo do amor. A velhice é o topo ou a decadência. Gostava de saber que sorte nos torna numa ou noutra. Olhe um cigarrinho para acalmar amigo. Muito gentil. O lume sempre tenho.
Mas amanhã se cá vier, posso trocar-lhe pensamentos políticos. Se não for pedir muito, puxe-me esse papelão mesmo por cima da cabeça. Exacto. Só para fechar a luz. Vou ver se sonho. Quer trocar um cigarro por um sonho. É nos sonhos que somos todos iguais.
Sem comentários:
Enviar um comentário