sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Vermelho Redundante

E o maluco lá ao longe aos berros:
- A cantar desde mil novecentos e dezanove

Os candeeiros dobravam-se como num holocausto, distorcidos por fortes ventanias. As janelas espreitavam a agitação com meias persianas fechadas, outras completamente desnudadas deixavam espelhar as suas vidraças como córneas húmidas de choro ou vento. Mesas e cadeiras caminhavam com quatro patas cada, pelos passeios ao longo das vitrinas dos cafés fazendo rumores e ecos sempre que pousavam as patas na calçada torta.

E o maluco lá ao longe sentado na soleira:
- A droga faz mal às células

As bandeiras das grandes empresas resmungavam feitas velas, repuxando os passeios onde estavam presos os mastros como cabelos pretos, cavando fendas profundas de raiva, onde se soltavam veias de água canalizada.

E o maluco cinzento esguedelhado:
- Cagaré, mijaré, foderé

No meio de um tudo isto passavas de vestido vermelho redundante. À Jorge Palma.

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