Um pastor guardando cento e tal ovelhas
Um padre confessando velhas
Um pintor que deu à luz um ser pintado
Um candeeiro de pé sempre acordado
Um Tio de França que regressou
Um comboio que partiu e já mais voltou
A memória do moinho da minha Terra
A mesma memória que se enterra
Dois compadres a darem ao dente
O Ferreira Barbeiro cortando rente
Cabelos loiros morenos da gente
Um sino que toca a rebate
Dois pelintras no engate
O Padre velho alto de fascina
Duas velhas surdas que não percebem patavina
Uma pomba da Paz pendurada numa cruz
Um tornozelo de velha que grita “Ai Jesus”
Uma boca feia outra analfabeta
Uma é da Rosa outra da Felisberta
O café da Terra cheio de moscas
A Mena Peixeira vendendo as ostras
O Zé na cama com a Ana Mamalhuda
O irmão espreitando pelo buraco da agulha
O burro do Jacinto a pastar
E o burro do Jacinto a olhar
Um fulano que levou um tiro na caixa-da-ferramenta
Pelo menos é o que se comenta
Um sacristão que vende cautelas
O mesmo sacristão apanhado a roubar parcelas
Uma história que se conta
Outra que se mente e se aponta.
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