quarta-feira, 13 de maio de 2009

História da Minha Terra

Um pastor guardando cento e tal ovelhas

Um padre confessando velhas

Um pintor que deu à luz um ser pintado

Um candeeiro de pé sempre acordado

Um Tio de França que regressou

Um comboio que partiu e já mais voltou

A memória do moinho da minha Terra

A mesma memória que se enterra

Dois compadres a darem ao dente

O Ferreira Barbeiro cortando rente

Cabelos loiros morenos da gente

Um sino que toca a rebate

Dois pelintras no engate

O Padre velho alto de fascina

Duas velhas surdas que não percebem patavina

Uma pomba da Paz pendurada numa cruz

Um tornozelo de velha que grita “Ai Jesus”

Uma boca feia outra analfabeta

Uma é da Rosa outra da Felisberta

O café da Terra cheio de moscas

A Mena Peixeira vendendo as ostras

O Zé na cama com a Ana Mamalhuda

O irmão espreitando pelo buraco da agulha

O burro do Jacinto a pastar

E o burro do Jacinto a olhar

Um fulano que levou um tiro na caixa-da-ferramenta

Pelo menos é o que se comenta

Um sacristão que vende cautelas

O mesmo sacristão apanhado a roubar parcelas

Uma história que se conta

Outra que se mente e se aponta.

Sem comentários:

Enviar um comentário